sexta-feira, 6 de junho de 2008

Voyeur Cultural: Meu Céu

Ainda não falei aqui dos espectáculos que mais gostei de ver no Alkantara. Preciso de balanço e disponibilidade para dispor em palavras o que ainda é tão emocional.
Mas posso falar do que menos gostei, aproveitando o balanço da cara chá na rua.

Meu Céu de Clara Andermatt, Castelo de São Jorge
Com tanta ponta solta, com textos que pareciam exercícios colectivos de escrita, com elementos que não encaixavam uns nos outros... E os velhos? O que faziam ali os velhos, que significava a presença dos velhos? Seriam eles mais do que um exercício junto da comunidade? Seriam um limbo, um aproximar do fim e o início da passagem?
Se calhar nem a própria Clara Andermatt o saberá dizer. Sinto depois de ver o seu espectáculo, que este foi colado a cuspo, uma junção de elementos mal fundamentada e mal conseguida. O que me incomoda nisto é que me ficou uma sensação de que poderia ser... poderia ter resultado... estava quase!
O tema será uma aproximação ao purgatório, uma exploração do já explorado. Estou cansada do eterno regresso a Dante, da dúvida permanente do além e do após. São dúvidas que já não me fazem pensar, são questões que já não me trazem novidade e que cada vez me parecem mais vazias de sentido na forma como são abordadas.
Valeu pelo espaço, pelos adereços e pela Lúcia Sigalho que por pior que seja o contexto é sempre interessante de ver...

Acho que estamos num impasse temático nas criações culturais Ocidentais. Repetem-se temas, explora-se o que já foi minuciosamente explorado, emprestam-se temas retirados de quem de facto tem algo a dizer, dança-se em roda de um centro que já deveria estar fechado.
Tenho ultimamente pensado e sentido que vivemos hoje a Angustia do Criador antes da Criação, mas em permanência! Esta angustia prolonga-se e estende-se à estreia e ao palco, galeria, museu ou outro qualquer local de apresentação . É uma angustia que ronda qualquer tema, absorvendo-o ; que se transporta para o público e nos faz do lado de cá ansiar por algo, que de facto nos faça espantar e pensar.

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